MISSA INCULTURADA - orientação para os comentários
Estamos nos aproximando da
Semana da Consciência Negra e acredito que pelo Brasil a fora, muitas
comunidades estarão celebrando esta temática, tanto pela liturgia quanto através
de seminários, concertos, enfim, com tudo o que o Povo negro merece. Neste
artigo limito-me a dar as novas orientações sobre o que precisamos ter presente
ao elaborarmos os comentários para a Missa inculturada. Aqui, no Rio Grande do
Sul, realizamos na cidade de Gravataí, um seminário sobre liturgia inculturada,
com o tema: celebrando a liturgia com um rosto afrodescendente. Foi realizado o
repasse do seminário nacional de teologia da pastoral afro e fizemos laboratório
para estarmos mais seguros do que realizamos. Exponho, então algumas orientações para
elaboração dos comentários e alguns passos práticos para a preparação para as
próximas celebrações, lembramos que nãoo dizemos mais axé nem
Olorum, e evitamos os cantos fazem alguma apologia aos Orixás.
1-
Acolhida e
comentário
Irmãos e irmãs, sejam todos
bem-vindos e bem vindas!
Acolhemos a todos e todas com muita
alegria para celebrarmos, fraternalmente, a eucaristia, presença visível e real
de Deus no meio do seu povo. Celebramos com um novo rosto, resgatando os valores
da cultura negra. Celebramos porque acreditamos na vida, na partilha, na
fraternidade e na possibilidade de ver um Brasil melhor, onde todos e todas
possam participar com iguais direitos e dignidade.
Em
nossa celebração, Jesus Cristo é o centro. Sendo o princípio e fim de todas as
coisas, para a comunidade negra, ele é o Antepassado maior, que permite a cada
liturgia, celebrar seu nascimento, morte e ressurreição. Ele tomou sobre si toda
sorte de dor, sofrimento, discriminação, preconceito, racismo e os superou.
Dele, a comunidade recebe a vida que não morre jamais e é nele, portanto, que
ela encontra forças para lutar contra todos esses males, alimentando o desejo de
contribuir sempre mais para a realização dinâmica do seu reino.
Nota: Acrescentar algo sobre o
significado do ano internacional dos afrodescendentes, 30 anos da missa dos
quilombos (1981) e algo sobre a realidade local. Lembrar que as leituras do
domingo, dia 20, não podem mudar, pois é solenidade da Igreja.
Como
irmãos e irmãs, reunidos na Casa do mesmo Pai, iniciemos com fé e muito gingado,
cantando n. 01 ou
.........................
2 – Orações
Iniciais
a)
(Invocação ao Deus Todo
Poderoso)
Padre: Em nome do Deus de todos
nomes, raças e culturas que, em Jesus se revelou como Pai, Filho e Espírito
Santo.
Todos: Em nome do Pai que faz toda carne: a preta e a branca, vermelha
no sangue!
Padre: Em nome do Filho Jesus,
nosso Irmão que nasceu moreno da raça de Abraão!
Todos: Em nome do Espírito Santo,
bandeira do canto do negro folião!
Padre: Em nome do Deus verdadeiro
que amou-nos primeiro sem DI-VI-DI-ÇÃO!
Todos: Em nome dos Três que são
um só Deus, aquele que era, que é e que será!
(rufam-se os atabaques por
alguns instantes)
b) Invocação do espírito de
todo o negro e negra que sofreu nestes últimos 500 anos e de todos os negros e
negras que sofrem a marginalização hoje.
Padre: Em nome do povo que
espera, na graça da fé, a voz de Jesus Salvador, o quilombo-Páscoa que o
libertará!
Todos: Em nome do povo sempre
deportado pelas brancas velas no exílio e nos mares marginalizados, nos cais,
nas favelas e até nos altares!
Padre: Em nome do Povo que fez seus
palmares!
Todos: Que ainda fará palmares de
novo; Palmares! Palmares! Palmares do povo!
(rufam-se os atabaques por
alguns instantes)
3 – Ato
Penitencial: (motivado pelo padre)
Com: Cantemos o BWANÁ, HUTURUHUMIÊ, Senhor, tende piedade
de nós!, n. 4 ou...
Oração: Olorum, todo poderoso,
tende compaixão de todos nós, vosso povo, perdoai as faltas que cometemos contra
o vosso plano de amor e nos conduza à construção, aqui e agora da vida feliz,
que não tem fim! Amém, axé!
4- Hino de
louvor:
(durante o canto, entra-se
ou, de lugares estratégicos, lança-se pétalas de rosa - flores)
Com: O nosso louvor ao Deus da
vida é um louvor sem fim, pois nos criou por amor e nos motiva a lutar por um
outro mundo possível. Louvemos pelos mártires da caminhada, por todas as pessoas
solidárias que empenharam e empenham
suas vidas na construção de uma sociedade justa e solidária, onde as pessoas não
sejam mais desprezadas pela sua cor ou raça. Cantemos o n. 6 ou
.......................
5- Oração.
6- Rito da
Palavra - (a Bíblia entra enfeitada com alguém
dançando)
Com: A Palavra de Deus, é viva e eficaz. Deus falou de muitas maneiras
através da história. Falou através dos profetas, dos antepassados africanos e
por fim, falou através do próprio Filho. Acolhemos esta palavra que brota da
vida, da Bíblia e do nosso coração, cantando – Canto n. 8 ou
.........................
1ª Leitura (At 2, 42-47)
Salmo 97 (98) - Ref: O Senhor fez conhecer a salvação e
revelou sua justiça às nações
Evangelho (Mt 5, 1-12). Aclamação cantemos o n. 10 ou
..............
Credo
Oração dos fiéis: Refrão cantado: Ó Senhor,
Senhor, nesta noite, escutai nossa prece
7- Apresentação das Oferendas
Com: Oferecemos ao Deus da vida, junto ao pão e ao vinho, toda a nossa
cultura. Um grupo dançando, trará até o altar, flores, instrumentos musicais,
comidas típicas e outros sinais do trabalho e da alegria do povo negro. Nossas
mãos abertas trazem as ofertas do nosso viver. Cantemos o número 12 ou
..........
8- Oração sobre as ofertas:
9- Oração Eucarística
10- Rito da Comunhão
Com: Jesus é a razão da nossa
esperança e a nossa comunhão com ele na Eucaristia nos dá força para caminhar e
contribuir na construção de uma sociedade mais justa fraterna e solidária.
Canto de comunhão, n. 16 ou
..............................................
11- Oração após a
comunhão.
12- Louvação a
Mariama
Com: Ao som dos instrumentos, iremos acolher a imagem da Negra Mariama e, em
seguida, acompanharemos a oração a Mariama de D. Hélder Câmara, concluindo com o
canto. Durante o canto, a imagem passará nos corredores para que todos toquem.
Canto 18 ou .....................
13- Avisos e homenagens
14- Partilha
Com: Em
nossa celebração o espaço se torna banquete onde todos participam, partilham, se
ajudam, preenchem-se de Deus e de axé. O que foi levado para as ofertas
, são distribuídos com os presentes. Cada um, cada uma, em voz alta ou em
silêncio, diz com qual luta, com qual pessoa gostaria de partilhar este
alimento. Cantemos o n. 22 ou
.......................
15- Marcha final da Missa dos Quilombos
16- Benção Final
Oração a Mariama
1- Mariama, Nossa
Senhora, mãe de Cristo e Mãe da Humanidade! Mariama, mãe dos seres humanos de
todas as raças, de todas as cores, de todos os cantos da terra. Pede ao teu
Filho que esta festa não termine aqui, a marcha final vai ser linda de
viver.
2- Mas é
importante, Mariama, que a Igreja de teu Filho não fique em palavras, não fique
em aplauso. O importante é que a CNBB, a Conferência dos Bispos, embarque de
cheio na causa dos negros, como entrou de cheio na Pastoral da Terra e na
Pastoral dos Índios;
1- Não basta
pedir perdão pelos erros de ontem. É preciso acertar o passo de hoje sem ligar
ao que disserem. Claro que dirão, Mariama, que é política, subversão, que é
comunismo. É Evangelho de Cristo, Mariama;
2- Mariama, Mãe
querida, problema de negro acaba se ligando com todos os grandes problemas
humanos. Com todos os absurdos contra a humanidade, com todas as injustiças e
opressões, Mariama, que se acabe, mas se acabe mesmo a maldita fabricação de
armas. O mundo precisa fabricar é paz;
1- Basta de
injustiça, de uns sem saber o que fazer com tanta terra e milhões sem um palmo
de terra onde morar. Basta de uns tendo de vomitar pra comer mais e cinqüenta
milhões morrendo de fome num ano só. Basta de uns com empresas se derramando
pelo mundo todo e milhões sem um canto onde ganhar o pão de cada
dia;
2- Mariama, Nossa
Senhora, Mãe querida, nem precisa ir tão longe como no teu Hino. Nem precisa que
os ricos saiam de mãos vazias e os pobres de mãos cheias. Nem pobre nem rico.
Nada de escravo de hoje ser senhor de escravo de amanhã. Basta de escravos. Um
mundo sem senhores e sem escravos. Um mundo de irmãos. De irmãos não só no nome
e de mentira. De irmãos de verdade, Mariama".
D.
Hélder Câmara
Marcha final da Missa dos Quilombos
Com: A espiritualidade que
vivenciamos foi trazida da África,
passou pelos Quilombos e pelas diversas formas de resistências e lutas, e que
foi ainda mais enriquecida através do contato com a mensagem cristã. Resgata a
história Aliança do Deus da vida com o
seu povo e convida toda a comunidade negra a se sentir povo de Deus, integrada a
todos os povos e culturas, como sujeito de sua própria história. Tudo isto nos
leva a encerrar com um trecho da marcha final da Missa dos
Quilombos:
Marcha final da Missa dos
Quilombos
"Trancados na noite,
milênios afora, forçamos agora as portas do Dia. Faremos um Povo de igual
rebeldia. Faremos um povo de bantos iguais. Faremos de todos os lares fraternas
senzalas, sem mais. Faremos a Negra Utopia do novo Palmares na só Casa Grande
dos filhos do Pai. Os Negros da África, os Afro da América, os Negros do Mundo,
na Aliança com todos os Pobres da Terra. Seremos o Povo dos Povos: Povo
resgatado, povo aquilombado, livre de senhores, de ninguém escravo, senhores de nós, irmãos de senhores, filhos
do Senhor! Sendo Negro o Negro, sendo Índio o Índio, sendo cada um como nos tem
feito a mão de Olorum".
Modjumbá axé!
Pe. Degaaxé, PSDP
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