sábado, 20 de outubro de 2012

MISSA INCULTURADA

MISSA INCULTURADA - orientação para os comentários


Estamos nos aproximando da Semana da Consciência Negra e acredito que pelo Brasil a fora, muitas comunidades estarão celebrando esta temática, tanto pela liturgia quanto através de seminários, concertos, enfim, com tudo o que o Povo negro merece. Neste artigo limito-me a dar as novas orientações sobre o que precisamos ter presente ao elaborarmos os comentários para a Missa inculturada. Aqui, no Rio Grande do Sul, realizamos na cidade de Gravataí, um seminário sobre liturgia inculturada, com o tema: celebrando a liturgia com um rosto afrodescendente. Foi realizado o repasse do seminário nacional de teologia da pastoral afro e fizemos laboratório para estarmos mais seguros do que realizamos. Exponho, então algumas orientações para elaboração dos comentários e alguns passos práticos para a preparação para as próximas celebrações, lembramos que nãoo dizemos mais axé nem Olorum, e evitamos os cantos fazem alguma apologia aos Orixás.

1- Acolhida e comentário
Irmãos e irmãs, sejam todos bem-vindos e bem vindas!
Acolhemos a todos e todas com muita alegria para celebrarmos, fraternalmente, a eucaristia, presença visível e real de Deus no meio do seu povo. Celebramos com um novo rosto, resgatando os valores da cultura negra. Celebramos porque acreditamos na vida, na partilha, na fraternidade e na possibilidade de ver um Brasil melhor, onde todos e todas possam participar com iguais direitos e dignidade.
Em nossa celebração, Jesus Cristo é o centro. Sendo o princípio e fim de todas as coisas, para a comunidade negra, ele é o Antepassado maior, que permite a cada liturgia, celebrar seu nascimento, morte e ressurreição. Ele tomou sobre si toda sorte de dor, sofrimento, discriminação, preconceito, racismo e os superou. Dele, a comunidade recebe a vida que não morre jamais e é nele, portanto, que ela encontra forças para lutar contra todos esses males, alimentando o desejo de contribuir sempre mais para a realização dinâmica do seu reino.
Nota: Acrescentar algo sobre o significado do ano internacional dos afrodescendentes, 30 anos da missa dos quilombos (1981) e algo sobre a realidade local. Lembrar que as leituras do domingo, dia 20, não podem mudar, pois é solenidade da Igreja.
Como irmãos e irmãs, reunidos na Casa do mesmo Pai, iniciemos com fé e muito gingado, cantando n. 01 ou .........................
2 – Orações Iniciais
a) (Invocação ao Deus Todo Poderoso)
Padre: Em nome do Deus de todos nomes, raças e culturas que, em Jesus se revelou como Pai, Filho e Espírito Santo.
Todos: Em nome do Pai que faz toda carne: a preta e a branca, vermelha no sangue!
Padre: Em nome do Filho Jesus, nosso Irmão que nasceu moreno da raça de Abraão!
Todos: Em nome do Espírito Santo, bandeira do canto do negro folião!
Padre: Em nome do Deus verdadeiro que amou-nos primeiro sem DI-VI-DI-ÇÃO!
Todos: Em nome dos Três que são um só Deus, aquele que era, que é e que será!
(rufam-se os atabaques por alguns instantes)
b) Invocação do espírito de todo o negro e negra que sofreu nestes últimos 500 anos e de todos os negros e negras que sofrem a marginalização hoje.
Padre: Em nome do povo que espera, na graça da fé, a voz de Jesus Salvador, o quilombo-Páscoa que o libertará!
Todos: Em nome do povo sempre deportado pelas brancas velas no exílio e nos mares marginalizados, nos cais, nas favelas e até nos altares!
Padre: Em nome do Povo que fez seus palmares!
Todos: Que ainda fará palmares de novo; Palmares! Palmares! Palmares do povo!
(rufam-se os atabaques por alguns instantes)
3 – Ato Penitencial: (motivado pelo padre)
Com: Cantemos o BWANÁ, HUTURUHUMIÊ, Senhor, tende piedade de nós!, n. 4 ou...
Oração: Olorum, todo poderoso, tende compaixão de todos nós, vosso povo, perdoai as faltas que cometemos contra o vosso plano de amor e nos conduza à construção, aqui e agora da vida feliz, que não tem fim! Amém, axé!
4- Hino de louvor:
(durante o canto, entra-se ou, de lugares estratégicos, lança-se pétalas de rosa - flores)
Com: O nosso louvor ao Deus da vida é um louvor sem fim, pois nos criou por amor e nos motiva a lutar por um outro mundo possível. Louvemos pelos mártires da caminhada, por todas as pessoas solidárias que empenharam e empenham suas vidas na construção de uma sociedade justa e solidária, onde as pessoas não sejam mais desprezadas pela sua cor ou raça. Cantemos o n. 6 ou .......................
5- Oração.
6- Rito da Palavra - (a Bíblia entra enfeitada com alguém dançando)
Com: A Palavra de Deus, é viva e eficaz. Deus falou de muitas maneiras através da história. Falou através dos profetas, dos antepassados africanos e por fim, falou através do próprio Filho. Acolhemos esta palavra que brota da vida, da Bíblia e do nosso coração, cantando – Canto n. 8 ou .........................
1ª Leitura (At 2, 42-47)
Salmo 97 (98) - Ref: O Senhor fez conhecer a salvação e revelou sua justiça às nações
Evangelho (Mt 5, 1-12). Aclamação cantemos o n. 10 ou ..............
Credo
Oração dos fiéis: Refrão cantado: Ó Senhor, Senhor, nesta noite, escutai nossa prece
7- Apresentação das Oferendas
Com: Oferecemos ao Deus da vida, junto ao pão e ao vinho, toda a nossa cultura. Um grupo dançando, trará até o altar, flores, instrumentos musicais, comidas típicas e outros sinais do trabalho e da alegria do povo negro. Nossas mãos abertas trazem as ofertas do nosso viver. Cantemos o número 12 ou ..........
8- Oração sobre as ofertas:
9- Oração Eucarística
10- Rito da Comunhão
Com: Jesus é a razão da nossa esperança e a nossa comunhão com ele na Eucaristia nos dá força para caminhar e contribuir na construção de uma sociedade mais justa fraterna e solidária. Canto de comunhão, n. 16 ou ..............................................
11- Oração após a comunhão.
12- Louvação a Mariama
Com: Ao som dos instrumentos, iremos acolher a imagem da Negra Mariama e, em seguida, acompanharemos a oração a Mariama de D. Hélder Câmara, concluindo com o canto. Durante o canto, a imagem passará nos corredores para que todos toquem. Canto 18 ou .....................
13- Avisos e homenagens
14- Partilha
Com: Em nossa celebração o espaço se torna banquete onde todos participam, partilham, se ajudam, preenchem-se de Deus e de axé. O que foi levado para as ofertas , são distribuídos com os presentes. Cada um, cada uma, em voz alta ou em silêncio, diz com qual luta, com qual pessoa gostaria de partilhar este alimento. Cantemos o n. 22 ou .......................
15- Marcha final da Missa dos Quilombos
16- Benção Final

Oração a Mariama

1- Mariama, Nossa Senhora, mãe de Cristo e Mãe da Humanidade! Mariama, mãe dos seres humanos de todas as raças, de todas as cores, de todos os cantos da terra. Pede ao teu Filho que esta festa não termine aqui, a marcha final vai ser linda de viver.
2- Mas é importante, Mariama, que a Igreja de teu Filho não fique em palavras, não fique em aplauso. O importante é que a CNBB, a Conferência dos Bispos, embarque de cheio na causa dos negros, como entrou de cheio na Pastoral da Terra e na Pastoral dos Índios;
1- Não basta pedir perdão pelos erros de ontem. É preciso acertar o passo de hoje sem ligar ao que disserem. Claro que dirão, Mariama, que é política, subversão, que é comunismo. É Evangelho de Cristo, Mariama;
2- Mariama, Mãe querida, problema de negro acaba se ligando com todos os grandes problemas humanos. Com todos os absurdos contra a humanidade, com todas as injustiças e opressões, Mariama, que se acabe, mas se acabe mesmo a maldita fabricação de armas. O mundo precisa fabricar é paz;
1- Basta de injustiça, de uns sem saber o que fazer com tanta terra e milhões sem um palmo de terra onde morar. Basta de uns tendo de vomitar pra comer mais e cinqüenta milhões morrendo de fome num ano só. Basta de uns com empresas se derramando pelo mundo todo e milhões sem um canto onde ganhar o pão de cada dia;
2- Mariama, Nossa Senhora, Mãe querida, nem precisa ir tão longe como no teu Hino. Nem precisa que os ricos saiam de mãos vazias e os pobres de mãos cheias. Nem pobre nem rico. Nada de escravo de hoje ser senhor de escravo de amanhã. Basta de escravos. Um mundo sem senhores e sem escravos. Um mundo de irmãos. De irmãos não só no nome e de mentira. De irmãos de verdade, Mariama".
D. Hélder Câmara

Marcha final da Missa dos Quilombos
Com: A espiritualidade que vivenciamos foi trazida da África, passou pelos Quilombos e pelas diversas formas de resistências e lutas, e que foi ainda mais enriquecida através do contato com a mensagem cristã. Resgata a história Aliança do Deus da vida com o seu povo e convida toda a comunidade negra a se sentir povo de Deus, integrada a todos os povos e culturas, como sujeito de sua própria história. Tudo isto nos leva a encerrar com um trecho da marcha final da Missa dos Quilombos:

Marcha final da Missa dos Quilombos
"Trancados na noite, milênios afora, forçamos agora as portas do Dia. Faremos um Povo de igual rebeldia. Faremos um povo de bantos iguais. Faremos de todos os lares fraternas senzalas, sem mais. Faremos a Negra Utopia do novo Palmares na só Casa Grande dos filhos do Pai. Os Negros da África, os Afro da América, os Negros do Mundo, na Aliança com todos os Pobres da Terra. Seremos o Povo dos Povos: Povo resgatado, povo aquilombado, livre de senhores, de ninguém escravo, senhores de nós, irmãos de senhores, filhos do Senhor! Sendo Negro o Negro, sendo Índio o Índio, sendo cada um como nos tem feito a mão de Olorum".


Modjumbá axé!
Pe. Degaaxé, PSDP

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